terça-feira, 9 de novembro de 2010

1ª Guerra Mundial

Introdução


Entre os anos de 1870 e 1914, o mundo vivia a euforia da chamada Belle Epóque (Bela Época). Do ponto de vista da burguesia dos grandes países industrializados, o planeta experimentava um tempo de progresso econômico e tecnológico. Confiantes de que a civilização atingira o ápice de suas potencialidades, os países ricos viviam a simples expectativa de disseminar seus paradigmas às nações menos desenvolvidas. Entretanto, todo esse otimismo encobria um sério conjunto de tensões.



Com o passar do tempo, a relação entre os maiores países industrializados se transformou em uma relação marcada pelo signo da disputa e da tensão. Nações como Itália, Alemanha e Japão, promoveram a modernização de suas economias. Com isso, a concorrência pelos territórios imperialistas acabava se acirrando a cada dia. Orientados pela lógica do lucro capitalista, as potências industriais disputavam cada palmo das matérias-primas e dos mercados consumidores mundiais.

Um dos primeiros sinais dessa vindoura crise se deu por meio de uma intensa corrida armamentista. Preocupados em manter e conquistar territórios, os países europeus investiam em uma pesada tecnologia de guerra e empreendia meios para engrossar as fileiras de seus exércitos. Nesse último aspecto, vale lembrar que a ideologia nacionalista alimentava um sentimento utópico de superioridade que abalava o bom entendimento entre as nações.

Outra importante experiência ligada a esse clima de rivalidade pôde ser observada com o desenvolvimento da chamada “política de alianças”. Através da assinatura de acordos político-militares, os países europeus se dividiram nos futuros blocos políticos que conduziriam a Primeira Guerra Mundial. Por fim, o Velho Mundo estava dividido entre a Tríplice Aliança – formada por Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália – e a Tríplice Entente – composta por Rússia, França e Inglaterra.

Mediante esse contexto, tínhamos formado o terrível “barril de pólvora” que explodiria com o início da guerra em 1914. Utilizando da disputa política pela região dos Bálcãs, a Europa detonou um conflito que inaugurava o temível poder de metralhadoras, submarinos, tanques, aviões e gases venenosos. Ao longo de quatro anos, a destruição e morte de milhares impuseram a revisão do antigo paradigma que lançava o mundo europeu como um modelo a ser seguido.


Primeira Guerra Mundial

 A Europa entra em declínio
A Europa brilhava sobre o mundo ... Vivia-se o apogeu da
sociedade liberal, capitalista.
O apogeu, dialeticamanete, traz consigo germe da mudança.
Esse germe eram as próprias contradições permanentes e fundamentais do Modo de
Produção Capitalista: a miséria do proletariado em meio à abundância, as crises
de superprodução, a frenética busca de mercados, os problemas sociais e
econômicos .. .
Enfim, todos esses problemas, ao evoluírem, geraram a crise
do mundo liberal capitalista, e a Primeira Grande Guerra representou na prática
o início desta crise.
Os homens da época, mesmo às vésperas do conflito, não
acreditavam na possibilidade de uma guerra generalizada. No máximo, levantavam a
possibilidade de uma guerra rápida e localizada nos moldes das ocorridas no
século XIX ...
Mas o longo período de relativa paz mantida desde o fim das
guerras napoleônicas e o “equilíbrio europeu” estabelecido no Congresso de Viena
em 1815 terminavam. . .
A Europa não mais brilhava sobre o mundo ...Ofuscada pelos
esforços de guerra, seu declínio era inevitável. Os problemas sociais e
econômicos agravaram-se: a classe média se pauperizava e a pressão operária
aumentava. Em meio à guerra, a Revolução Socialista explodira na Rússia, e,
agora, representava uma ameaça para a Europa.
Diante do “perigo vermelho”, como reagiriam os industriais e
financistas do mundo capitalista?
Estudando a Revolução Russa encontraremos a resposta para
essa questão.


Até 1914 – Hegemonia da Europa

Apesar do desenvolvimento dos Estados Unidos e do Japão, a
Europa exercia em 1914 a supremacia econômica e política sobre o resto do mundo.
Econômica porque controlava a maior parcela da produção mundial, 62% das
exportações de produtos fabris e mais de 80% dos investimentos de capitais no
exterior, dominando e ditando os preços no mercado mundial. Era a maior
importadora de produtos agrícolas e matérias-primas dos países que hoje compõem
o Terceiro Mundo.
Hegemonia política porque na sua, expansão o capitalismo
europeu levou à necessidade de se controlar os países da Ásia, África e América
Latina.
Á Europa era desigual quanto à estrutura econômica e
política. Dos 23 Estados europeus, 20 eram Monarquias e só a França, Suíça e
Portugal eram Repúblicas. Os regimes políticos eram constitucionais, mas 0
Parlamentarismo, forma típica do Liberalismo Político, só existia de fato na
Grã-Bretanha, Bélgica e França, pois os demais países, apesar de
constitucionais, possuíam formas autoritárias de governo, como a Áustria-Hungria
e a Alemanha.
Os problemas sociais refletiam a diversidade das estruturas
sócio-econômicas. Nos países da Europa Centro-Oriental a nobreza predominava. Já
nos países da Europa Ocidental, a industrialização colocara frente a frente a
burguesia e a classe operária. Entretanto, a ameaça de uma revolução social era
remota naquele momento, pois a maioria dos partidos socialistas tendia à
moderação, aderindo ao jogo político do Liberalismo. As únicas exceções eram
algumas facções de esquerda, como os Bolchevistas russos.
Só os Estados tinidos e o Japão colocavam-se fora da
influência européia, disputando com o capitalismo europeu “áreas de influência”.
Em 1914 os Estados Unidos já eram potência econômica mundial, controlando
pequena parcela do mercado mundial e recebendo investimentos da Europa. O Japão,
após sua “abertura ao Ocidente”, desenvolveu-se rapidamente via Revolução Meiji,
passando a integrar-se ao círculo das nações imperialistas voltando suas vistas
para a China e a Manchúria, na Ásia.



Alianças e choques Internacionais
no período anterior à Guerra

O clima internacional na Europa era carregado de antagonismos
que se expressavam na formação de alianças secretas e de sistemas de alianças,
tornando a ameaça de uma guerra inevitável.
O desenvolvimento desigual dos países capitalistas, a partir
de fins do século XIX, levara países que chegaram tarde à corrida
neocolonialista internacional, como a Alemanha, a reivindicarem uma redivisão do
território econômica mundial; tendo se acentuado a rivalidade pela luta por
mercados consumidores, pela aquisição de matérias-primas fundamentais e por
áreas de investimentos. Essa rivalidade na época do imperialismo refletiu-se em
âmbito mundial devido à interdependência criada entre as economias das diversas
regiões do mundo pela expansão do capitalismo. Daí o caráter mundial do
conflito.  Existiam inúmeros pontos de atrito entre as potências, os quais
geravam antagonismos, os principais eram:
1° – o conflito anglo
germânico: a Alemanha, unificada tardiamente e tendo se desenvolvido “rompendo
etapas” no final do século XIX, já desalojara a Inglaterra da sua posição de
“oficina do mundo”, mas não possuía colônias, áreas de investimentos e outros
mercados correspondentes à sua pujança econômica, daí a política agressiva
expressada também na corrida navalista, o que foi considerado uma ameaça à
secular hegemonia marítima inglesa;

2° - o franco-alemão :
girando principalmente em torno da questão da Alsácia-Lorena, territórios
franceses anexados à Alemanha em 1871. Os alemães se opunham também à penetração
francesa no Marrocos, o que “ameaçava” a “paz mundial” com os incidentes de
Tânger (1905), Casablanca (1908) e Agadir (1911);

3° - o áustro-russo:
acentuado quando os russos, afastados do Extremo Oriente após a derrota para o
Japão em 1905, voltaram as atenções para os Bálcãs, onde a política russa foi de
apoio à Sérvia, foco de agitação nacionalista anti-austríaca;
4° - o russo-alemão :
em torno do controle dos Estreitos de Dardanelos, já que a rota do expansionismo
russo cortava a do imperialismo alemão (Berlim-Bagdá);
5° - o áustro-sérvio:
nos Bálcãs, a Sérvia fomentava as agitações nacionalistas dentro do Império
Áustro-Húngaro, sendo constante fonte de atritos, levando quase ao conflito em
1908 quando a Áustria ocupou a Bósnia-Herzegovina e em 1912 quando exigiu a
independência da Albânia.
Foi esse último foco de atrito que provocou o início do
conflito, em 1914.
No plano ideológico a época se caracterizou pela
intensificação dos nacionalismos, os quais serviam para encobrir as ambições
imperialistas. Podem ser mencionados o Pangermanismo (desenvolvido na Alemanha e
afirmando a superioridade da “raça” alemã), o Revanchismo (dominando a França e
com idéias de uma desforra contra a Alemanha por causa das perdas e humilhações
sofridas em 1870) e o Pan-Eslavismo (difundido na Rússia e atribuindo aos russos
a função de “proteger” os demais povos eslavos).
Para sustentar o nacionalismo agressivo e o imperialismo
beligerante, os países empreenderam a corrida armamentista. Intensificou-se a
produção de armas e munição, desenvolveu-se a construção naval, aumentaram-se os
exércitos: era a Paz Armada.

“Se a Alemanha
fosse extinta amanhã, depois de amanhã não haveria um só inglês no mundo que não
fosse rico. Nações lutaram durante anos por uma cidade ou um direito de sucessão
- não deveríamos nós lutar por um comércio de duzentos e cinqüenta milhões de
libras? A Inglaterra deve compreender o que é inevitável e constitui sua mais
grata esperança de prosperidade. A Alemanha deve ser destruí da “ (Trechos de
The Saturdaw Review, citado por BLRNS, E.. MCNALL, . op. cit., pág.  784.)

“Um país desfibrado está à mercê do primeiro que chegar, um
pais armado, anima do pelo espírito militar e pronto para o combate, está certo
de impor o respeito e de evitar os horrores da guerra.”
(Afirmativa de Paul
Cambon, diplomata francês, em 1909.)
Essa atmosfera de tensão explica a formação de dois sistemas
de alianças. Um, a Tríplice aliança, aparentemente mais coesa, agrupando
Alemanha, Áustria-Hungria e Itália. O único ponto fraco era a Itália, por ser
incerta sua atitude na ocasião de um conflito e também por estar se aproximando
das potências da Entente Cordiale. O outro sistema era a Tríplice Entente,
formada de uma aliança militar (a franco-russa) e dois acordos (a Entente
Cordiale - franco-inglesa — e o Acordo anglo-russo). Os vínculos entre tais
países eram mais frágeis do que aqueles que entrelaçavam o “sistema alemão” e
tinha contra si a fragilidade social, política e econômica da Rússia, sendo
também difícil prever o comportamento da Inglaterra antes de iniciar-se um
conflito armado.
O sistema de alianças secretas gerou um mecanismo tal, que
bastava um incidente para desencadear um conflito generalizado. E foi o que
ocorreu em julho de 1914, quando o Arquiduque, herdeiro do trono austríaco,
Francisco Ferdinando, foi assassinado em Sarajevo por um estudante da
Bósnia-Herzegovina (província austríaca reivindicada pela Sérvia).
A partir daí os acontecimentos se precipitaram:
1 - a Áustria, apoiada
pela Alemanha, enviou um ultimatum à Sérvia, o qual, não sendo atendido
integralmente, levou os austríacos a declararem a guerra;

2 - a Rússia mobilizou as
tropas em defesa da Sérvia, recebendo um ultimatum alemão para se desmobilizar;

3 - a 1 ° de agosto a
Alemanha declarou guerra à Rússia e, dois dias após, à França;

4 - imediatamente a
Bélgica foi invadida, ignorando a Alemanha a sua neutralidade, o que levou em 4
de agosto, a Inglaterra a declarar-lhe guerra;

5 - a Itália se omitiu,
embora pertencesse à Tríplice Aliança, argumentando que o seu compromisso com a
Áustria e com a Alemanha previa sua participação apenas no caso de tais países
serem agredidos.
 

Iniciava-se a Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
 
Mapa da Europa às vésperas da Primeira Grande
Guerra

 
No início da guerra, sete Estados já se achavam envolvidos
diretamente: Áustria-Hungria, Rússia, Sérvia, Inglaterra, Bélgica, França e
Alemanha. Á 23 de agosto, o Japão juntou-se aos Aliados e, em novembro, a
Turquia aderiu às Potências Centrais. A guerra tomou um  caráter mundial à
medida que as colônias desses países se viram envolvidas.

A
“Guerra de Movimentos”

Em 1914, a tendência principal foi dada pela ofensiva alemã
na frente ocidental, com a penetração em território francês, e pelo avanço nos
Bálcãs, onde a presença turca foi essencial . Entretanto, em setembro a ameaça
que pesava sobre Paris foi detida pela batalha do Marne, que levou à
estabilização da frente ocidental. Par mar, a Alemanha foi bloqueada pelos
Aliados e suas colônias ocupadas, ao mesmo tempo que os alemães iniciavam a
campanha submarina, provocando enormes perdas dos Aliados. Na frente oriental, a
ofensiva russa foi detida pelas vitórias alemãs nos Lagos Mazurinos e em
Tannenberg.



A “Guerra de Trincheiras”

Compreendendo os anos de 1915 e 1916, o período
caracterizou-se na frente ocidental pela “guerra de trincheiras”. O ano de 1915
foi marcado por gigantesca ofensiva alemã na frente ocidental visando eliminar a
Rússia, antes de se voltar contra a França.
Os exércitos russos começaram a se desagregar.
Nesse mesmo ano, a Itália entrou na guerra a favor dos
Aliados, em troca de promesas inglesas de participar da partilha das colônias
alemãs na África, receber vantagens territoriais na Ásia Menor e uma posição
dominante no Adriático: isto permitiu a abertura e nova frente. A Bugária aderiu
às Potências Centrais.
A partir de 1916, o principal cenário da guerra foi a frente
ocidental, onde se defrontavam franceses e alemães, destacando-se a batalha de
Verdun, que paralisou a ofensiva germânica. Na Europa Oriental, a Entente
realizou uma ofensiva que estimulou a ntrada, ao lado dos Aliados, da Romênia,
logo ocupada pelas Potências Centrais.



1917 – Ano Decisivo para a Guerra


A eclosão do conflito ocorreu em 1917, caracterizando-se pelo
agravamento da campanha submarina alemã, mesmo contra os navios neutros, pela
entrada dos Estados Unidos no conflito e retirada da Rússia da guerra com a
trégua assinada em dezembro, após os Bolchevistas terem tomado o poder. A
entrada norte-americana no conflito foi decisiva porque todos os países
envolvidos enfrentavam naquele ano problemas internos a Rússia assistiu à
deposição da Monarquia em março e à tomada do poder pelos Bolchevistas em
novembro; na França, após fracassada ofensiva, as tropas se amotinaram; a
Inglaterra estava à beira do colapso, e mesmo entre as Potências Centrais a
situação não era boa, uma vez que a campanha submarina alemã fracassara e as
dificuldades de abastecimento eram enormes.
O acontecimento, principal, entretanto, foi a adesão dos
Estados Unidos às potências da intente, praticamente decidindo o curso da
guerra..
Desde o início, os EUA financiavam o esforço: de guerra
franco-inglês, sem, no entanto, abdicar de sua neutralidade. Mas a ameaça de uma
derrota da Entente, que poria em risco os investimentos norte-americanos nesses
países, foi aos poucos levando os EUA a abandonar seu “neutralismo”. Os
acontecimentos se precipitaram quando a Alemanha declarou ao Presidente Wilson
sua intenção de bloquear as ilhas britânicas e a França, tornando perigosa a
situação dos navios neutros. A campanha da imprensa igualmente estimulou a
entrada dos EUA na guerra. Em abril, o Congresso, por proposta de Wilson,
declarou guerra à Alemanha.
A contribuição norte-americana foi decisiva: financeiramente,
os EUA passaram a auxiliar diretamente os países da Entente; economicamente, foi
um golpe na campanha submarina da Alemanha, que passou a ser bloqueada, ao mesmo
tempo que, a entrada em cena dos contingentes norte-americanos quebrou o
equilíbrio, já precário, mantida pelas Potências Centrais; diplomaticamente, a
maioria dos países da América Latina declarou guerra às Potências Centrais.


1918 – Vitória final do Aliados

O inicio de 1918 foi inaugurado pela enorme ofensiva das
Potências Centrais contra a Entente, visando a impor condições a esta, antes que
as tropas norte-americanas chegassem totalmente à Europa. Nesse ano, foram
utilizadas todas as inovações bélicas (tanques, aviões, gases venenosos etc.),
recomeçando a “guerra de movimento”. Entretanto, a ofensiva alemã foi paralisada
pela segunda batalha do Marne. A balança de forçasse inclinou definitivamente
para a Entente, que iniciou uma contra-ofensiva de grandes proporções, levando
os alemães ao recuo.
Na Europa Oriental, a Bulgária capitulou, o mesmo ocorrendo
com a Turquia que, ameaçada delas vitórias inglesas na Síria e no Iraque,
decidiu depor as armas. A Hungria foi ameaçada e os italianos em Vittorio Veneto
iniciaram grande ofensiva. O Império Austro-Húngaro se decompôs, pois cada nação
proclamou sua independência. Só a Alemanha prosseguiu a guerra, mas a partir de
novembro estouraram rebeliões da esquerda e, a 9 de novembro, a República foi
proclamada.
A 11 de novembro, os representantes do Governo Provisório
alemão assinaram em Rethondes o armistício que punha fim à guerra.



Mapa da Europa após o término da Primeira Grande Guerra


Problemas causados pela Guerra

Esta foi a primeira guerra da qual participaram todas as
principais potências do mundo, embora de certa maneira não tivesse deixado de
ser, no fundo, uma “guerra civil européia”. As guerras anteriores, contudo, se
restringiram à Europa e eram travadas entre Estados de economia agrícola. Em
1914 foi diferente: as principais potências envolvidas eram industriais, foram
utilizados todos os novos experimentos técnicos e a população civil sentiu na
carne a guerra.



Economia de Guerra!
  

A Primeira Grande Guerra, pela sua duração e, amplidão, levou
à necessidade de mudança de atitude do Estado em relação à economia nacional.
Cada Estado passou a controlam ou a submeter à sua autoridade a direção da
economia, tomando medidas que revolucionaram os hábitos tradicionais, colocando
em xeque as concepções doutrinárias tradicionais, uma vez que os diversos
Estados:

1) recrutaram
obrigatoriamente os civis, já que, em pouco, as “reservas de homens” se tinham
esgotada;

2) modernizaram e
intensificaram a produção de material bélico;  dispuseram da mão-de-obra e
regulamentaram seu emprego.
A economia de
guerra, que suprimiu a liberdade econômica, incluiu a fixação dos preços de
venda das mercadorias e o racionamento mediante o estabelecimento de cotas de
consumo à população civil. Proibia-se ou se liberava a importação de produtos de
primeira necessidade e se controlavam os transportes, inclusive com o
congelamento dos fretes. As fábricas deveriam produzir apenas artigos de guerra,
os salários ficavam congelados e proibidas as greves.

O financiamento da guerra ultrapassou as expectativas, tendo
os Estados recorrido aos empréstimos externos e internos, destacando-se também o
problema dos abastecimentos: pela primeira vez na História adotou-se o
racionamento, iniciado na Alemanha e estendido a todos os países, em maior ou
menor grau. A vida tornou-se muito difícil para a população civil, que teve seu
poder aquisitivo diminuído com a alta desenfreada dos preços e o congelamento
salarial em um momento em que a greve era proibida por ser considerada atividade
“antipatriótica”...


Problemas Políticos e Sociais

As liberdades políticas foram suspensas e os Parlamentos
deixaram de ter voz ativa, uma vez que a urgência das medidas a serem adotadas
levou à iniciativa constante do Executivo. “A disciplina imposta pela guerra
incrementou a autoridade dos ‘notáveis’ a quem os progressos da Democracia
obrigavam, antes, a recuar lentamente: não só a autoridade dos chefes militares,
ciosos de suas prerrogativas e cujas altercações com os governos civis nem
sempre terminavam com a vitória destes últimos, mas também a da burguesia que
fornece a quase totalidade dos quadros do exército (...) A luta contra as
opiniões prejudiciais à Defesa Nacional, contra o derrotismo, estende-se não
apenas a toda critica dos atos do comando ou do governo, mas a toda opinião que
ponha em perigo a União Sagrada discutindo a estrutura social, o exercício da
autoridade patronal ou os problemas religiosos.” ( CROUZET, M, op. cit., pág.
31.)
Toda essa situação foi-se tornando insustentável durante o
desenrolar do conflito.
Começaram a se desenvolver, com diferentes gradações,
opiniões pacifistas nos próprios governos e a oposição socialista continental
aumentou. Em 1915 socialistas russos exilados, suíços, italianos, alemães e
franceses realizaram em Zimmerwald, na Suíça, um congresso negando a União
Sagrada e exigindo “uma paz, sem anexação e sem indenização”
Tudo isso estimulou motins, deserções e rebeliões da própria
população civil. As greves, mesmo proibidas, aumentaram, e na Rússia o Czarismo
foi derrubado com participação da própria burguesia, ao mesmo tempo que se
desenvolvia a Revolução Socialista (1917).


Repercussões da Guerra

Do ponto de vista econômico, a guerra produziu crescente
desequilíbrio entre a produção e o consumo, manifestando-se uma crise econômica
que teve na inflação seu aspecto mais importante. Essa precária situação
econômica, que marcou o declínio relativo da Europa, ocasionou. grande
desequilríbrio social, destacando-se a pauperização da classe média e o aumento
da pressão operária através dos sindicatos controlados pelos partidos
socialistas, que se dividiram.
“Até aqui, era um fato elementar (...) que a Europa  dominava
o mundo com toda a superioridade de sua grande e antiga civilização. Sua
influência e seu prestígio irradiavam, desde séculos, até as extremidades da
Terra (...)
Quando se pensa nas conseqüências da Grande Guerra, que agora
finda, pode-se perguntar se a estrela da Europa não perdeu seu brilho, e se o
conflito do qual ela tanto padeceu não iniciou para ela uma crise vital que
anuncia a decadência (...)”
( DEMANGEON, A.,
Le Déclin de L’Europe, Payot, págs. 13 e 14.)

A ameaça de revolução pairava sobre a Europa, especialmente
nos países derrotados. Tal situação levou a concessões por parte dos setores
dominantes, ocorrendo, em contrapartida, o fortalecimento crescente das classes
trabalhadoras através da ampliação da legislação social.
O elemento feminino, sobre o qual recaíra durante a guerra
grande parte das responsabilidades da retaguarda, aumentou sua projeção social e
política.

Politicamente, a guerra, em um primeiro momento, assinalou a
vitória dos princípios liberais e democráticos, com o desaparecimento dos
Impérios Alemão, Áustro-Húngaro, Russo e Turco, e a adoção do regime republicano
em quase todos os países, tendência muito breve, uma vez, que a crise que se
seguiu à guerra, provocando a intranqüilidade e a instabilidade sociais, levou
ao estabelecimento de ditaduras: aprofundava-se a crise do Estado Liberal.


“Tratados” de Paz; a Conferência de
Paris

Em janeiro de 1919 reuniu-se em Paris uma conferência de paz,
na qual eram representados 32 países - Aliados ou neutros. Os países vencidos e
a Rússia não participaram. Tal situação inicial já mostrava o objetivo de impor
uma “paz cartaginesa” (severa) aos derrotados.

Desde janeiro de 1918 que, em uma mensagem ao Congresso, o
Presidente norte-americano Wilson tinha estabelecido os Quatorze Pontos que
deveriam, segundo ele servir de base aos futuros tratados regulamentadores da
paz. Podemos destacar os seguintes Pontos:
1) abolição da diplomacia
secreta;        
2) livre navegação nos
mares;
3) supressão das barreiras
econômicas;
4) redução ao mínimo dos
armamentos nacionais aos limites compatíveis com a segu rança interna do país;
5) restauração da
independência da Bélgica;
6) restituição da Alsácia
e da Lorena à França;
7) autonomia para as
nacionalidades do Império Austro-Húngaro;
8) regulamentação amigável
das questões balcânicas;
9) reconstituição de um
Estado polonês, com livre acesso ao mar;
10) instituição de uma
Sociedade das Nações destinada a garantir a independência e a integridade
territorial de todos os Estados.

As figuras principais da Conferência foram os representantes
da França (Clejnenceau), Inglaterra (Lloyd George) e Estados Unidos ( Wilson)
que concordaram em fundar a Sociedade das Nações.
Além da divisão entre os vencedores, dificultando a paz, os
países vencidos se recusavam a assinar os injustos tratados impostos, procurando
a Alemanha, por todos os meios, ludibriar as determinações neles contidas. A
Áustria e a Hungria não se conformaram com os tratados, que reduziram a primeira
a um “anão disforme”. A Bulgária não aceitou a perda de portos do Egeu e, na
Turquia, o governo dos Jovens Turcos, chefiado por Mustafá Kemal, que havia
deposto o Sultão, recusou-se a aceitar a “humilhação do Tratado de Sèvres”.
Mas todos os vencidos tiveram que aceitar os tratados.


O
“Tratado” de Versalhes

Regulava a paz core a Alemanha, sendo composto de 440
artigos; ratificado pela Alemanha em 28 de junho de 1919, na Galeria dos
Espelhos. Seus artigos dividiam-se em cinco capítulos:
1) o Pacto da Sociedade das Nações;
2) Cláusulas de segurança;
     3) Cláusulas
territoriais;

 4) Cláusulas financeiras e econômicas;

 5) Cláusulas diversas. Eis as principais estipulações:

 
1) Cláusulas de segurança
(exigidas pela França, que temia a desforra dos alemães: proibição de fortificar
ou alojar tropas na margem esquerda do Reno, totalmente desmilitarizada;
fiscalização do seu desarmamento por uma comissão interaliada; em caso de
agressão alemã à França, esta receberia auxílio anglo-norte-americano; redução
dos efetivos militares; supressão do serviço militar obrigatório, sendo o
recrutamento feito pelo sistema do voluntariado; supressão da marinha de guerra
e proibição de possuir submarinos, aviação de guerra e naval, e artilharia
pesada; 

2) Clausulas
territoriais: devolução da Alsácia e da Lorena à França, de Eupen e Malmédy à
Bélgica, do Slesvig à Dinamarca; entrega de parte da Alta Silésia à
Checoslováquia; cessão da Pomerânia e dá Posnânia à Polônia, garantindo-lhe uma
saída para o mar, mas partindo em dois o território alemão pelo corredor
polonês; renúncia a todas as colônias que foram atribuídas principalmente à
França e à Inglaterra; entrega de Dantzig, importante porto do Báltico, à Liga
das Nações, que confiou sua administração à Polônia;

3) Cláusulas
econômico-financeiras: a título de reparação, deveria entregar locomotivas,
parte da marinha mercante, cabeças de gado, produtos químicos; entrega à França
da região do Sane, com o direito de explorar as jazidas carboníferas aí
existentes, durante 15 anos; durante dez anos, fornecimento de determinada
tonelagem de carvão à França, Bélgica e Itália; como “culpada pela guerra”,
pagaria, no prazo de 30 anos, os danos materiais sofridos pelos Aliados, cujo
montante seria calculado por uma Comissão de Reparações (em 1921, foi fixado em
400 bilhões de marcos); concessão do privilégio alfandegário de “nação mais
favorecida” aos Aliados;

4) Cláusulas diversas:
reconhecimento da independência da Polônia e da Tchecoslováquiá; proibição de se
unir à Áustria (“Anschluss”); responsabilidade pela violação das leis e usos da
guerra: utilização de gases venenosos e atrocidades diversas; reconhecimento dos
demais tratados assinados.



Outros “Tratados” de Paz

No mesmo ano, foram assinados tratados de paz em separado com
os demais vencidos consagrando modificações de fato já ocorridas, com o
desmembramento do Império Austro-Húngaro - devido a revoltas nacionais- e as
anexações feitas pela Sérvia, Romênia e Grécia às custas da Turquia, Hungria e
Bulgária. A questão das províncias asiáticas da Turquia ficou para ser discutida
mais tarde. Foram assinados três tratados: o de Saint-Germain, com a Áustria; o
de Trianon, com a Hungria; e o de Neuilly, com a Bulgária. O último a ser
assinado (em 1923) foi o de Lausanne, com a Turquia, por causa da reação turca
às imposições do Tratado de Sèvres.
Os tratados de paz refletiram o caráter imperialista da
guerra. Embora a tendência na década de 1920 fosse a de se estabelecer um
“esfriamento” nas relações internacionais, a paz rigorosa imposta aos vencidos,
sobretudo à Alemanha, aumentou os antagonismos.
Fora da Europa, os principais beneficiários da guerra foram o
Japão, que manteve a ocupação de colônias da Alemanha no Pacífico e se apossou
das concessões alemãs na China, e a Inglaterra e a França, que receberam da Liga
das Nações antigas colônias alemãs na África sob a forma de mandatos.
A União Soviética, ignorada pelas potências ocidentais na
convocação para a Conferência de Paris, teve seus territórios invadidos_ pelos
antigos aliados; o fracasso da intervenção militar resultou em uma política de
isolamento ao primeiro Estado socialista domundo: a Política do Cordão
Sanitário.
Por outro lado, do conflito participaram pela primeira vez
tropas coloniais que, ao retornar aos seus países de origem, iniciaram os
movimentos nacionais de libertação, em nome da própria ideologia liberal
européia: começava a Descolonização da Ásia e da África.
A guerra também abalou o Liberalismo Político e Econômico e a
Revolução Russa comprovou na prática a aplicação das teorias socialistas do
século XIS. A guerra não pusera fim às rivalidades. Tudo recomeçaria, pois em
Versalhes foram lançadas as sementes da Segunda Guerra Mundial ...

História Geral - Aquino, Denize e Oscar - Ed. Ao
Livro Técnico

Toda a História - José Jobson Arruda - Ed. Ática

História - Luiz Koshiba - Ed. Atual

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