segunda-feira, 5 de abril de 2010

Textualidade e seus princípios

Textualidade é um conjunto de características que fazem com que um texto seja considerado como tal, e não como um amontoado de palavras e frases.
Dois blocos de sete fatores, segundo Beaugrande e Dressler, são os responsáveis pela textualidadede qualquer discurso:
  • Fatores semântico/formal (coerência e coesão);
  • Fatores pragmáticos (intencionalidade, aceitabilidade, situcionabilidade, informatividade e intertextualidade).
Princípios (Forma prática):

Intencionalidade é a intenção de fazer penetrar seus pensamentos na mente de quem o escuta. Para convencer alguém de seu modo de pensar e passar isto para o outro, é necessário que se tenha argumentos irrefutáveis e/ou pelo menos coerentes. A convicção com que se emprega a palavra é também ponto importante, dando bastante ênfase às suas palavras, usando pausas intencionais, demonstrando, através de sua fala, que acredita no que expõe.

Chamamos informatividade as informações veiculadas através dos textos escritos ou visuais, como anúncios, artes plásticas, artigos, dentro outros tipos de textos.

O grau de informatividade de um texto é medido de acordo com o conhecimento de mundo das pessoas a que ele se destina. Ou seja, dizemos que um texto possui um alto grau de informatividade quando a compreensão mais ampla desse texto depender do repertório cultural do leitor.

Um texto é mais informativo quanto menor for sua previsibilidade, e vice-versa. Para que haja sucesso na interação verbal, é preciso que a informatividade do texto seja adequada ao interlocutor.

Uma grande parcela dos textos de circulação nacional veiculados pela mídia possui um grau médio de informatividade. Desta maneira, eles conseguem prender a atenção do leitor e, ao mesmo tempo, acrescentar-lhe novas informações.

Assim, textos contendo relatos de experiência em Química Orgânica, por exemplo, apresentará um alto grau de informatividade, quando direcionado a todos os públicos, pois na verdade ele interessa apenas a um público restrito: aqueles que dominam os conceitos desta área científica.

No entanto, se a informatividade do texto for muito baixa, o leitor pode desinteressar-se por ele, pelo fato de não apresentar nada de novo ou importante. Este tem sido um dos grandes problemas das redações de vestibulares. É necessário que estas produções apresentem um grau médio de informatividade, para que o texto não corra o risco de cair na obscuridade ou relatar o óbvio.

Um exemplo de informação óbvia é o que comumente chamamos “senso comum”. São argumentos aceitos universalmente, sem necessidade de comprovação. Por exemplo: “o homem depende do ambiente para viver”, ou ainda “a mulher de hoje ocupa um papel social diferente da mulher do século XIX”. Informações como estas já foram comprovadas historicamente, não precisam de justificativa. Por apresentarem um grau de informatividade muito baixo, têm um valor persuasivo menor.

Às vezes, o senso comum é confundido com “lugar comum”. Estas são informações obscuras, traduzidas em expressões como “o homem não chora”, “todo político é ladrão”, “mulheres dirigem mal”. Além de preconceituosas, não têm base científica, mas mesmo assim vêm sendo repetidas como se representassem uma “verdade universal”. Empregada dentro do texto dissertativo, acabam por causar incoerência textual, já que não têm base na realidade.

Assim, para que se construa um texto dissertativo que contenha informações relevantes ao leitor, é preciso pesquisar e confrontar diversas fontes sobre a mesma temática, a fim de que o texto apresente argumentos suficientes para levar o leitor a compreender seu raciocínio lógico.

Fontes
CEREJA, William Roberto & MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação. São Paulo, Atual Editora, 2000.


A Intertextualidade pode ser definida como um diálogo entre dois textos. Observe os dois textos abaixo e note como Murilo Mendes (século XX) faz referência ao texto de Gonçalves Dias (século XIX):


Canção do Exílio  
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."

Gonçalves Dias
Canção do Exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a
                                                      [ Gioconda
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de
                                        [ verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
                                             

               Murilo Mendes
    
   
      

   
 
    
    

Nota-se que há correspondência entre os dois textos. A paródia-piadista de Murilo Mendes é um exemplo de intertextualidade, uma vez que seu texto foi criado tomando como ponto de partida o texto de Gonçalves Dias.

Na literatura, e até mesmo nas artes, a intertextualidade é persistente.
Sabemos que todo texto, seja ele literário ou não, é oriundo de outro, seja direta ou indiretamente. Qualquer texto que se refere a assuntos abordados em outros textos é exemplo de intertextualização.

A intertextualidade está presente também em outras áreas, como na pintura, veja as várias versões da famosa pintura de Leonardo da Vinci, Mona Lisa:

Mona Lisa
, Leonardo da Vinci. Óleo sobre tela, 1503.

Mona Lisa, de Marcel Duchamp, 1919.

Mona Lisa, Fernando Botero, 1978.

Mona Lisa, propaganda publicitária.


 A situacionalidade é um principio importante para a constituição de textualidade, já que a coesão, a coerência, a informatividade e as atitudes e disposições de autor/falante e leitor/ouvinte são função do modo como os usuários interpretam as relações entre o texto e sua situação de ocorrência: o sentido e o uso do texto são determinados pela situação. No caso de um resumo de telenovelas, por exemplo, espera-se que sua publicação se dê no período em que a novela estiver sendo exibida. 

Do contario, se a novela já tiver acabado, não tem mais porquê resumi-la. É provável que ninguém leria um resumo de telenovelas publicado após a exibição do último capítulo, por já saber o que aquele texto tem para lhe dizer. Por outro lado, também não é muito comum a publicação, no jornal de domingo, de um resumo de uma telenovela que estreará na segunda-feira, pois este tipo de resumo  especificamente conta com o conhecimento do leitor do que já se passou até aquele momento. Quando uma novela ainda vai estrear, faz-se, no lugar do resumo, uma apresentação do enredo e traça-se um perfil social e psicológico de cada personagem para ambientar o leitor. Observa-se, assim, o quanto a situacionalidade está relacionada com os demais fatores de textualidade.

            Aceitabilidade: O texto só é texto a partir do momento que alguém se dispuser a lê-lo; logo, no momento da produção textual deve-se ter em mente para qual leitor – real ou imaginário - o texto será direcionado. Isso faz com que tenhamos a noção de aceitabilidade, o que nos induz a estruturarmos o texto sob um foco, uma dada direção.

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